Na última década, a necessidade de se eliminar os estereótipos de gênero do universo infantil tem sido discutida com bastante profundidade. Estudos recorrentes demonstram que tais estereótipos têm impacto direto na autoestima de nossas crianças.
A organização Britânica Girl Guiding Attitudes Survey detectou em sua última pesquisa que a maioria das meninas entre 7 e 21 anos se sente reprimida pelos estereótipos de gênero e sexismo e acredita que sua confiança poderia ser melhor se eles não existissem. Estudos semelhantes revelam que meninos estão tendo dificuldades em desenvolver aspectos relacionados à inteligência emocional, o que acaba afetando sua saúde mental.
Em posse desses dados, o varejo começa a reagir para eliminar estereótipos consolidados ao longo dos anos, visando promover uma mudança significativa na maneira como educamos as crianças e construímos uma sociedade mais igualitária.
Roupas e brinquedos que antes eram direcionados exclusivamente a um dos gêneros passam a adotar uma estratégia comercial de “alvo neutro”, em que caem as etiquetas “masculino” e “feminino” e as opções se ampliam para ambos.
No mundo da moda, o grande precursor do selo “agênero” (que pode ser lido tanto como “sem gênero” quanto “para todos os gêneros”) foi a rede britânica John Lewis, que retirou as tags tradicionais de suas peças e as substituiu por etiquetas onde se lê “menino & menina” ou “menina & menino” – impressas em igual quantidade e afixadas aleatoriamente nas roupas da sessão infantil.
Como reflexo dessa iniciativa e toda a repercussão ao seu redor, outras marcas logo seguiram os passos da John Lewis e, mesmo que ainda mantivessem suas lojas organizadas por gênero, adicionaram uma nova sessão destinada aos simpatizantes da moda neutra para crianças.
O mercado resolveu refletir como as crianças realmente vivem: como indivíduos com seus próprios gostos e hobbies. Garotas adoram ser garotas e garotos adoram ser garotos, mas há muito mais em ser uma garota do que ser uma linda princesa passiva que deve estar sempre linda de rosa; e tem muito mais em ser um menino do que ser um durão violento a governar o mundo vestindo azul.
Peças como camisetas, calças jeans, All Star infantil e moletons sempre fizeram parte do guarda-roupa tanto de meninas como de meninos. Mas, em alguns casos, como em camisetas e moletons, elas carregam em suas cores e estampas uma mensagem clara sobre a quem se destinam.
É evidente que existem crianças que se encaixam nesses estereótipos. Mas isso não significa que se deva agrupar todas as meninas e meninos nas mesmas caixas rosas ou azuis. É por isso que o termo “agênero” pode ser enganoso. Não se trata de tornar todas as crianças iguais, e sim de reconhecer que todas as crianças são diferentes.